sábado, 30 de abril de 2011

Dulcis Christe

Mina : Dulcis Christe




lyrics

Dulcis Christe,
o bone Deus,
o amor meus,
o vita mea,
o salus mea,
o gloria mea.

Dulcis Christe, ...

Tu es Salus,
Tu es Creator mundi,
Te volo, Te quaero, Te adoro, o dulcis Amor.
Te adoro, o care Jesu.

domingo, 24 de abril de 2011

O Senhor ressuscitou verdadeiramente!

Encontrei este vídeo, composto, segundo nos diz a autora (?), de vários "clips" de filmes (O Apocalipse, "A Paixão de Cristo", um filme antigo de Jesus de que diz não se recordar do título, e vários outros,nomeadamente da natureza). A música é de Bach: Christ lag in Todes Banden. BWV 4. e Kantate zum Ostersonntag.



Não menos notável é este segundo vídeo que aqui trago, que me deixa fascinada ante o dom prodigioso de quem assim desenha, bem como ante os desenhos em si e o que neles, para além de narrado, é dito.

Domingo da Ressurreição

Acrescentei ao post de ontem o link para a homilia de Bento XVI a 2 de Maio do ano passado, em Turim, não só por ter sido a minha leitura do Sábado Santo, mas por preparar e antecipar o dia de hoje, Domingo da Ressurreição.
Certamente escreverei ainda mais algumas linhas.

sábado, 23 de abril de 2011

Entrée du Samedi Saint. «Le grand silence»




Se não fosse tão extenso transporia para aqui todo o texto da homilia de Bento XVI sobre o sudário, «o ícone do Sábado Santo», como lhe chama e como o vê, como homem, como teólogo e como . Deixo o link (recomendando vivamente a sua leitura integral)e dois excertos (os destaques são meus).

On peut dire que le Saint-Suaire est l'Icône de ce mystère, l'Icône du Samedi Saint. En effet, il s'agit d'un linceul qui a enveloppé la dépouille d'un homme crucifié correspondant en tout point à ce que les Evangiles nous rapportent de Jésus, qui, crucifié vers midi, expira vers trois heures de l'après-midi. Le soir venu, comme c'était la Parascève, c'est-à-dire la veille du sabbat solennel de Pâques, Joseph d'Arimathie, un riche et influent membre du Sanhédrin, demanda courageusement à Ponce Pilate de pouvoir enterrer Jésus dans son tombeau neuf, qu'il avait fait creuser dans le roc à peu de distance du Golgotha. Ayant obtenu l'autorisation, il acheta un linceul et, ayant descendu le corps de Jésus de la croix, l'enveloppa dans ce linceul et le déposa dans le tombeau (cf. Mc 15, 42-46). C'est ce que rapporte l'Evangile de saint Marc, et les autres évangélistes concordent avec lui. A partir de ce moment, Jésus demeura dans le sépulcre jusqu'à l'aube du jour après le sabbat, et le Saint-Suaire de Turin nous offre l'image de ce qu'était son corps étendu dans le tombeau au cours de cette période, qui fut chronologiquement brève (environ un jour et demi), mais qui fut immense, infinie dans sa valeur et sa signification.


Le Samedi Saint est le jour où Dieu est caché, comme on le lit dans une ancienne Homélie: "Que se passe-t-il? Aujourd'hui, un grand silence enveloppe la terre. (...)"


(...)


Vers la fin du xix siècle, Nietzsche écrivait: "Dieu est mort! Et c'est nous qui l'avons tué!". Cette célèbre expression est, si nous regardons bien, prise presque à la lettre par la tradition chrétienne, nous la répétons souvent dans la Via Crucis, peut-être sans nous rendre pleinement compte de ce que nous disons. Après les deux guerres mondiales, les lager et les goulag, Hiroshima et Nagasaki, notre époque est devenue dans une mesure toujours plus grande un Samedi Saint: l'obscurité de ce jour interpelle tous ceux qui s'interrogent sur la vie, et de façon particulière nous interpelle, nous croyants. Nous aussi nous avons affaire avec cette obscurité.


Et toutefois, la mort du Fils de Dieu, de Jésus de Nazareth a un aspect opposé, totalement positif, source de réconfort et d'espérance. Et cela me fait penser au fait que le Saint-Suaire se présente comme un document "photographique", doté d'un "positif" et d'un "négatif". Et en effet, c'est précisément le cas: le mystère le plus obscur de la foi est dans le même temps le signe le plus lumineux d'une espérance qui ne connaît pas de limite.

(...)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A via sacra (as «estações da cruz»)



A tradição pode ser ocidental (como a série de quadros desde logo o aponta)e não ortodoxa (siríaca), o que só importa de um ponto de vista de teórico. A mistura agrada-me e por isso escolhi este vídeo.

Numa língua para mim inteiramente opaca, os sons funcionam como puros significantes e é como se se tratasse de um cântico «em línguas». Como o carneiro dentro da caixa do Principezinho («c'est tout à fait comme ça que je le voulais»)posso confiar-lhe o que não preciso de me esforçar por verbalizar, um sentir sem pensamento, mais próximo do puro sentir, mais próximo do puro amor.

A tradução prenderia o sentir ao sentido a que (na língua de chegada) o texto apela. É o que acontece neste cântico, não menos belo, na mesma língua de expressão:

Syriac Orthodox Hymn "Sogdinan La'Slibo"

Sexta-feira Santa



lyrics

Were you there when they crucified my Lord ?
Were you there when they crucified my Lord ?
Oh, sometimes it causes me to tremble, tremble, tremble
Were you there when they crucified my Lord ?


Were you there when they nailed him to the tree ?
Were you there when they nailed him to the tree ?
Oh, sometimes it causes me to tremble, tremble, tremble
Were you there when they nailed him to the tree ?


Were you there when they pierced him in the side ?
Were you there when they pierced him in the side ?
Oh, sometimes it causes me to tremble, tremble, tremble
Were you there when they pierced him in the side ?


Were you there when they laid him in the tomb ?
Were you there when they laid him in the tomb ?
Oh, sometimes it causes me to tremble, tremble, tremble
Were you there when they laid him in the tomb ?

quinta-feira, 21 de abril de 2011

reflexão sobre o Evangelho de hoje

Quinta-feira Santa. Reconheço, ou melhor, tenho vindo a reconhecer, que, entre as inúmeras formas de oração, se pode incluir a reflexão através da escrita e que um diário (não necessariamente quotidiano) se pode substituir ao antigo "exame de consciência", numa progressiva libertação das convenções e dogmatismos, com o entendimento de que, como tudo, têm um papel na aprendizagem que a Via representa.
O passo do Evangelho que a Igreja escolheu para o dia de hoje não é o do momento da consagração, (que está, naturalmente, incluído),  mas o que o antecede: Jesus lava os pés aos discípulos (João 13,1-15). Reflicto neste versículo: «O que Eu estou a fazer tu não o entendes por agora, mas hás-de compreendê-lo depois.» Se o «por agora» coloca o acontecimento («o que Eu estou a fazer») no plano do caminho que se perfaz a cada momento no tempo, o «depois» aponta-lhe aquela meta que, vindo a cada momento, é sempre «por vir» (de onde fazer sentido o reconhecimento de que o caminho é já a meta)."Depois" será, neste sentido, a sobrevinda da «compreensão», na plenitude que, no símbolo, é «já».
Nesta sequência, evoco um episódio que me permanece vivo na memória e que olho como símbolo da revelação «destas coisas» reservada aos «pequeninos». Era uma homilia dirigida às crianças da catequese sobre este mesmo passo do Evangelho de S. João, pressupondo-se que tivesse sido "devidamente preparado" pelas catequistas. Imagino o desassossego destas em face da posição inabalável das crianças (as que se não inibiram de responder, claro) quanto à razão por que Jesus lavava os pés aos discípulos: «porque eles tinham os pés sujos». A interpretação que faziam da insatisfação manifestada pelo padre não passava da linguagem utilizada ao seu conteúdo. Para elas o problema era da linguagem. A certa altura os adultos já não conseguiam conter o riso em face das correcções que as crianças faziam umas às outras na procura da formulação pretendida. O «por causa do pivete» do primeiro garoto foi sucessivamente substituído por «porque cheiravam mal dos pés», «porque tinham os pés sujos», «porque não tinham os pés limpos», «porque traziam poeira do caminho», até a minha Teresa alvitrou no sentido da limpeza: «porque estavam diante de Jesus e...». Claro, os pés tinham de estar limpos. Só o padre não ria, antes pelo contrário, depois de quase ter gritado «eu já disse que não é por terem os pés sujos!»,deixando as crianças confusas, todo ele era concentração no controlo de uma certa fúria que os risos contidos dos pais exacerbava. Enfim, lá disse que era para dar o exemplo de humildade.
Pergunto-me sobre quem terá sobrevindo a «compreensão» : sobre ele, sobre as crianças, sobre os pais? O certo é que sempre que reflicto em tudo isto me me interrogo sobre a natureza da «Compreensão» e a ligo ao Espírito Santo, a Cristo, a Deus.
Hoje e nesta recapitulação detenho-me nestas palavras: «Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés, pois está todo limpo.» As crianças, afinal, glosaram este versículo. Na verdade, não lhes lavam as mães - e porventura também os pais, alguns, por vezes o já tivessem feito - os pés (e, como dizia Pedro, «também as mãos e a cabeça» e o corpo todo) todos os dias? Uma noção só surge por oposição a outra. Onde não há orgulho também não há humildade. Os discípulos tinham já estas noções, as crianças, ainda não. Ele pergunta-lhes: «Compreendeis o que vos fiz?». Depois, sem esgotar o símbolo, simplesmente aponta um rumo: para que, assim como Eu fiz, vós façais também».
Pode ser mais uma heresia dizer que naquela missa O senti tão humanamente presente, sorrindo, rindo mesmo, com aquele sentido de humor de que tantas vezes se serve como Mestre e Amigo. E deixa-nos sempre a pergunta: «Compreendeis?»

terça-feira, 19 de abril de 2011

«budista-cristão» e «cristã-budista», na essência, o mesmo

Poderia aquele que apanha do chão o humilde ser que corre o risco de ser pisado  no caminho e o põe a salvo afirmar-se «não cristão», se, no momento em que se compadece e se inclina neste gesto, o enche o «Espírito de Cristo» que o move? 
Que importa que se diga budista (ou o que for que se diga), como eu me digo cristã, se nos irmanamos no mesmo gesto, no mesmo fundamental sentir?  Não se dirá, porém,"não cristão", como eu me não direi  «não budista». Olhá-lo-ei como budista-cristão e serei olhada como cristã-budista, sabendo ambos (ou não nos corroborassem o coração e a mente o que nos diz o espírito) que por detrás da aparente dualidade nome-referência, há a unidade trina em que i-rompe e de que e-rompe, gerando-a, Aquele que nos escreve no coração «o nome acima de todos os nomes», diante do qual «todo o joelho se dobrará». 
Posso estar a dizer uma grande heresia, mas o sentir que dita o gesto no exemplo que dei não é já uma pura forma de adoração desse Nome em nós inscrito?

A Via cristã

Se sempre tive consciência da singularidade do Caminho/Via de cada um, cada vez estou mais convicta de que os que O procuram/desejam O encontraram já e que é nessa procura/desejo que cada encontro  acontece.
Assim sendo, pergunto-me o porquê de ficar tão encrespada quando sinto ser-me inculcado o que eu mesma sempre me coibi de me inculcar, como seja uma imagem à Sua semelhança. Não falo, naturalmente, de uma imagem de Jesus (claro que faço imagens, sempre outras, do que Ele é para mim e tenho as minhas preferências no que toca a representações); falo de uma imagem do que  por natureza não a tem, nem mesmo se Lhe podendo atribuir uma «imagem vazia», ou mesmo um «vazio de imagens», pois que nenhum destes grupos nominais diz o tocarem-se o ser e o não-ser ou manifestar-se o divino na Sua unidade trina.

Muita coisa há, na verdade, nos "catecismos" (em que incluo o da tradição em que estou enraizada e que, por isso mesmo, não renego) a que se me cerram as portas do coração e da mente. Porque se insiste (à revelia dos tantos "renovamentos" que por todo o lado se têm tentado) em sustentar sentidos feitos (interpretações estabelecidas) que, as mais das vezes, reclamam todos os dons do Espírito para se compreender o que de verdadeiro possam significar? Se em tudo  a Verdade pode assomar, até na sua própria ausência ...

Assumo-me «cristã» e uso estas aspas (com que assinalo as palavras de alguém, nesta caso as minhas), distinguindo de "cristã" (aspas com que assinalo um uso especial do termo, mormente o generalizado), no sentido que me sinto estar a ser inculcado por quem, com raízes na mesma tradição, as renega no acto (de fala) em que se afirma "não cristão". Por outro lado, sinto o mesmo encrespamento (ou maior) quando alguém, afirmando-se «cristão», dá contra-testemunho de Cristo.  Não faltam, aliás, nos Evangelhos passos a advertirem-nos desta contradição. Se sei que assim é, porque me encrespo então?

reflexão para o início da Semana Santa

Se a Quaresma que agora se aproxima do fim me parece, contra o que desejava e esperava, ter vindo acentuar esta tão grande aridez religiosa que tenho vindo a experienciar, atribuo-o meramente ao contraste com o modo como ainda há tão pouco tempo vivia este tempo e, de corpo, alma e espírito, participava nas cerimónias da Semana Santa. No entanto, acredito que tudo isto é inerente à Via e, como tal, uma coisa boa (chamo-lhe «aridez religiosa» e não «aridez espiritual» ou "acídia", porque o não é ). Diz-mo o coração e diz-mo o espírito (ainda que a mente hesite), e por isso não  Lhe peço «faz-me voltar», antes «faz-me avançar» na certeza de que o mar pode ser a fonte, mas é para o mar que corre este rio que quero ser. 

domingo, 17 de abril de 2011

Domingo de Ramos

sábado, 9 de abril de 2011

Como não hei-de amar as palavras?

O que anseio com respeito às palavras não é o regresso impossível (e completamente indesejável) ao que possa fantasiar ter sido a «língua pura», seja num mítico tempo pré-Babel, seja num não menos mítico jardim do Éden, seja no que, na história do desenvolvimento do «eu», T.T. faz corresponder à fase pré-verbal, que surge e ressurge nas suas mais belas páginas. Destaco (do poema «Dumnesse»): 
«Não os ouvidos,
mas os próprios olhos eram ali todos os ouvintes.
E cada pedra e cada estrela uma língua,
e cada sopro do vento uma singular canção.»
Tudo lhe falava, diz, numa língua que, na sua mudez, plenamente entendia. No entanto, não há qualquer nota de saudosismo (como viria ser o caso em Wordsworth e nos românticos) no que relata, de vibrante que é nas suas palavras a plena e segura certeza de que o que há a buscar é adiante: tudo isto e mais. Um «mais» que faz toda a diferença. 
Na verdade, se se tratasse de regressar ao que foi, que sentido faria partir? Ou, se o percurso é circular, porventura terá de ser ao mesmo que se volta? Não vejo que a ideia de circularidade («from into the main», numa das expressões de T.T.) implique necessariamente o fechar de um círculo, antes a vejo  "traçar" o avanço «de claridade em claridade» (em «anéis crescentes») até à "luz da luz"  - o superlativo hebraico para o qual A.S. constrói a expressão «überlichtiges Licht». 
É como construção verbal congénere que faz sentido (para mim) o termo nietzscheano «übermenschlich» : übermenschlicher Mensch é (para mim) aquele que, ainda que por instantes, num «momento dentro e fora do tempo», de si diga «não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim». 
No seguimento de tudo isto , a «reine Sprache» é (para mim) a «übersprachliche Sprache» que anseio  (e me encanta, deslumbra, fascina) ver, escutar, sentir, saborear, aspirar nas palavras («todos os sentidos num só confundidos»). Não será isso mesmo o que elas próprias esperam? Dar corpo à «revelação dos filhos de Deus» (evoco o enigmático passo de Rom 8:19)?
Só a poesia o pode fazer, «já e ainda não». E fá-lo no poema. Direi, assim, que é tanto mais belo quanto nele sinta vibrar a «übergedichtliches Gedicht» que o anima já. Como não hei-de amar as palavras? Como não me há-de fascinar «a límpida catedral / de seda e água» que são - e a que dão corpo, alma e espírito - estas mesmas palavras no poema? Não é a sua realidade mais real do que a pedra de que «cai»? Tão real como (de «esse lugar de erva / musgo e fogo») tocar-nos o anjo  «ao quebrar da noite / os ombros /- os meus e os teus - / estremecidos / pelo fervilhar do frio»... 
Como se não hão-de amar as palavras?


quinta-feira, 7 de abril de 2011

são de se amar, as palavras

Não é o desgaste pelo uso que afecta as palavras ao ponto de ter deixado de confiar nelas. Se, como dizem, o desgaste produz algum vazio semântico, logo ele é preenchido com o sentido tornado dominante: sob a capa de "significado vulgar do termo", apossam-se dela, vindos de fora, o lugar-comum, o estereotipo, a estigmatização.

Retomo a metáfora de T.T. em que os pensamentos são «anjos que envio lá fora», mensageiros ao meu serviço. Precisarão eles das palavras? Que farão com elas quando as continuo a usar, mesmo sabendo o risco que corro em confiar nelas? Ou não será que, fora do estritamente funcional, é sempre nebuloso o que quero dizer, razão por que espero das palavras uma clarificação? Não admira que as não dispense, mais: que as ame tal como são. Se tenho por vezes a impressão de que não são o que desejo, é sempre o anjo que invoco que a elas, e nelas, acorre.
As palavras são partículas ou ondas consoante o modo como as queira ver, não esquecendo o "campo" intrínseco à tríade que constituem. A quem envio estes anjos? A mim mesma? Ao outro? A ambos? E diante de quem o faço, se somos sempre três?